Saquarema, com sua rica história, belas paisagens e destaque no surfe, é um município que sempre teve uma importância política singular, desde o Brasil Imperial até os dias atuais. Sua trajetória política reflete não apenas os desafios enfrentados localmente, mas também as grandes transformações nacionais que ocorreram ao longo de sua história.
Fundação de Saquarema e o Contexto Político do Império
A cidade de Saquarema foi oficialmente fundada em 8 de maio de 1841. Durante o Brasil Imperial, a política local era fortemente influenciada pelas elites agrárias, que controlavam grandes propriedades rurais e exercitavam poder sobre a população, composta principalmente por pescadores e agricultores.
Saquarema rapidamente se tornou um bastião do Partido Conservador, cuja sede de apoio político no Rio de Janeiro rendeu à cidade o título de “berço dos conservadores”. Esse partido se alinhava com as políticas monárquicas e representava os interesses da elite agrária, defendendo o controle centralizado e a manutenção das tradições. O nome “Partido Saquarema”, inclusive, foi adotado pelos conservadores em homenagem à cidade, que se tornou símbolo de resistência contra as reformas liberais no período do Segundo Reinado, liderado por Dom Pedro II.
Um dos principais líderes políticos do Partido Conservador foi Paulino José Soares de Sousa, o Visconde de Uruguai, um dos mais importantes estadistas do Brasil Imperial. Embora não tenha nascido em Saquarema, sua forte ligação com a cidade consolidou ainda mais a relação entre o município e os ideais conservadores.
A Primeira República e a Política dos Coronéis
Com a Proclamação da República em 1889, o Brasil entrou em uma nova fase política, marcada pelo início da Primeira República, também conhecida como República Velha. Saquarema, como muitas outras cidades brasileiras, passou a ser dominada pelos chamados "coronéis", grandes proprietários de terra que exerciam controle absoluto sobre a política local. Esses líderes rurais mantinham o poder por meio de uma prática conhecida como coronelismo, onde o voto de cabresto — controle dos votos através de pressão ou manipulação — era amplamente utilizado.
Durante essa época, o município era administrado por uma pequena elite, geralmente formada por famílias de latifundiários locais. Entre essas famílias, destaca-se a figura do coronel Francisco Rodrigues da Costa, um dos líderes mais influentes de Saquarema no início do século XX. Sob sua liderança, as decisões políticas eram focadas em manter o status quo agrário, sem muitas inovações que pudessem alterar a dinâmica de poder estabelecida.
A Era Vargas e a Política Municipal de Saquarema
A chegada de Getúlio Vargas ao poder, com a Revolução de 1930, trouxe profundas mudanças na política nacional, e Saquarema não ficou imune a essas transformações. Durante o Estado Novo (1937-1945), o coronelismo começou a perder força em muitas regiões do Brasil, à medida que Vargas centralizava o poder e enfraquecia as oligarquias regionais. Em Saquarema, esse período também foi marcado pelo enfraquecimento do controle das elites rurais sobre a política local.
Foi durante essa época que surgiram novas lideranças políticas que tentavam quebrar o domínio dos antigos coronéis. Uma figura importante desse período foi o político Manoel de Vasconcelos, que liderou o movimento por maior representatividade política no município. Ele foi uma das vozes que apoiou o desenvolvimento de uma política mais urbana e menos ligada aos grandes latifundiários.
O Crescimento do Turismo e as Mudanças Políticas no Século XX
Nas décadas de 1950 e 1960, Saquarema começou a se transformar em um destino turístico, especialmente com a ascensão do surfe nos anos 1970. O turismo trouxe consigo novas demandas políticas e econômicas. A partir desse período, o foco político do município começou a mudar, passando da agricultura e pesca para o setor de serviços e o desenvolvimento da infraestrutura urbana.
A popularidade da cidade entre surfistas e veranistas acelerou o crescimento populacional e a urbanização. Prefeitos e vereadores tiveram que adaptar suas políticas para atender às novas demandas, como a construção de estradas, melhoria no abastecimento de água, saneamento básico e ampliação da rede elétrica.
Entre os prefeitos que marcaram a política local nesse período, destaca-se João Alves Filho, que foi um dos responsáveis por promover o crescimento da cidade e aumentar sua visibilidade no cenário estadual. Ele incentivou a promoção de eventos esportivos, como campeonatos de surfe, e investiu em infraestrutura turística.
Nos anos 1980 e 1990, Saquarema começou a experimentar uma maior pluralidade política. Com a redemocratização do Brasil em 1985, as eleições diretas voltaram a ser realizadas, permitindo o surgimento de novos líderes locais. Roseli Fernandes, eleita em 1992, foi a primeira prefeita de Saquarema, representando um marco para a cidade e ampliando o debate sobre a inclusão de mulheres na política local.
O Século XXI: Saquarema e o Equilíbrio entre Desenvolvimento e Preservação
No início do século XXI, Saquarema passou a enfrentar um novo desafio: como equilibrar o desenvolvimento urbano e turístico com a preservação de suas belezas naturais. A cidade se tornou um destino mundialmente conhecido por sediar campeonatos de surfe, como o World Surf League, mas essa popularidade também trouxe desafios de urbanização descontrolada e especulação imobiliária.
Um dos prefeitos mais atuantes na política recente de Saquarema foi Francisco José Villar dos Santos, conhecido como Chico Peres, que governou a cidade em diferentes mandatos. Sob sua liderança, Saquarema viu melhorias nas áreas de saúde, educação e infraestrutura, além de um foco na preservação ambiental. Ele promoveu diversas ações para garantir que o desenvolvimento da cidade ocorresse de maneira sustentável.
Em 2016, a cidade ganhou mais um nome importante na política com a eleição de Manoela Peres, esposa de Chico Peres, que continuou o trabalho de modernização da cidade. Ela foi reeleita em 2020 e seu mandato tem sido marcado por investimentos em saneamento básico, melhoria da educação pública e revitalização do turismo, especialmente em torno dos eventos esportivos de surfe.
Os Desafios Políticos Atuais
Atualmente, Saquarema enfrenta desafios que envolvem tanto o crescimento populacional quanto a preservação ambiental. A administração local tem focado em melhorar a infraestrutura sem perder de vista a importância de preservar as áreas naturais, como as lagoas, as restingas e as praias.
A especulação imobiliária e o aumento da construção civil, especialmente nas áreas costeiras, continuam a ser temas sensíveis para a política municipal. Além disso, o aumento da população temporária durante a alta temporada exige da administração pública uma maior organização dos serviços de saúde, saneamento e segurança.
Outro ponto de atenção é a inclusão social. O crescimento do turismo trouxe mais empregos, mas também aumentou as disparidades econômicas. Portanto, políticas voltadas para a qualificação profissional e a geração de emprego fora do setor turístico têm sido debatidas pelos governantes.
Conclusão
A trajetória política de Saquarema é um reflexo das dinâmicas locais e nacionais ao longo da história do Brasil. Desde sua fundação no período imperial, quando era um símbolo do conservadorismo monárquico, até o presente, onde lida com os desafios de uma cidade em crescimento, Saquarema sempre teve um papel relevante na política fluminense. Hoje, com uma administração voltada para o desenvolvimento sustentável e a preservação de suas belezas naturais, a cidade busca garantir que o crescimento econômico ocorra de maneira equilibrada, sem comprometer o futuro das próximas gerações.
